segunda-feira, 26 de julho de 2010

In[esperado]



" O relógio marcava exatamente 18h58. Um fim de tarde gelado devido à estação mais fria do ano fazia com que todos vestissem roupas gigantes, felpudas, ou de qualquer outro tipo para se manterem aquecidos.  Como escurecia mais rápido, as lâmpadas do parque já estavam todas acesas, e as luzes que enfeitavam as árvores fazia com que tudo se tornasse radiante. Ele sentou-se num banco, próximo a uma árvore de primavera, esperando ouvir aquela voz suave que há tempos parecia tão distante. De repente, sente uma mão tocar seu ombro, e se depara com um velho de cabelos brancos, barba mal-feita, e um casaco marrom que cheirava guardado. 
- O que faz aqui sozinho nesse frio, meu rapaz? - perguntou o velho, curioso.
Ele, um tanto receoso, não hesitou em responder a uma pergunta tão indefesa:
- Estou esperando por uma pessoa, acho que está um pouco atrasada, penso que não há mal nenhum em esperar, não acha?
- Com certeza não rapaz - riu singelamente! - Posso lhe fazer um pouco de companhia? Não tenho muito o que fazer por aqui, e talvez possamos conversar enquanto está sozinho...
Um pouco desconfiado, mas com uma grande simpatia por essa imagem que deixava transparecer sabedoria, aceitou a proposta.
- Mas então! O senhor me perguntou o que fazia aqui neste frio, e lhe expliquei. E você, espera por alguém ou está sozinho?
O velho então, com olhos de tristeza, respondeu de forma incerta, mas sábia:
- Sempre esperamos por alguém. Nunca estaremos sozinhos em um mundo tão grande. Aqui mesmo, agora, em um parque tão pequeno e em um banco tão velho quanto eu, acabo de encontrá-lo. Não vejo de forma alguma que estou sozinho.
- Me desculpa ser incoveniente, mas não espera por uma pessoa específica? Por exemplo, sua esposa, ou filhos?
- Não!  - respondeu o velho de forma séria -  não tenho ninguém. Todos que já tive se foram, e não defino mais nada específico em minha vida. Veja meu rapaz, eu sempre fui muito correto em tudo que fiz, e deixei de viver tanta coisa por detalhes  tão mínimos, que hoje não possum relevância. Tudo é tão inesperado como encontrar uma pessoa sozinha numa noite tão fria. Todos agora estão em suas casas se esquentando em lareiras, cobertores, jogando baralho e se divertindo, o que seria tão óbvio em um dia como esse. E você aqui, esperando por alguém que talvez nem venha. E o admiro por isso, pois vejo em você o que eu mesmo, poderia ter sido. 
Levantou-se e sem se despedir, seguiu sem rumo, para um lugar que talvez nem ele soubesse que poderia chegar.
O rapaz então colocou-se a pensar, em tudo o que aquele velho, um pouco estranho, havia acabado de dizer. Novamente, olhou no relógio, que marcavam 20h43. É incrível como o tempo havia passado tão rápido, e tão imperceptível. E realmente, aquela voz que tanto esperava ouvir, talvez nem viesse. 
Foi então, que conseguiu juntar todos os pontos, e encaixou tudo o que havia acabado de escutar. Notou que nem sempre as pessoas estão dispostas a ser o que ele era, ou o que seria ao desejar algo. Talvez o seu inesperado fosse inconsciente, e o seu tempo, apenas uma apreciação de outros.
Levantou-se do banco, e foi caminhando como se também não tivesse um caminho a seguir, quando, de repente, um pouco de longe, escuta uma voz doce gritando pelo seu nome... Virou-se e recebeu mais do que mesmo esperava. E então, em lembranças daquelas palavras sábias, percebeu que até mesmo o esperado, simplesmente se torna o inesperado ... "



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